03/06/2014

Da série Revista JB: a poética das curvas

Um olhar atento aos detalhes, uma versatilidade incomum no traço e o desejo de continuar experimentando e comunicando-se por meio de seus projetos mundiais. Assim é o trabalho da aclamada arquiteta iraquiana Zaha Hadid.

Edifícios que se integram e se adaptam às necessidades de seus habitantes. Curvas em desatino a perder de vista, femininas, holísticas. Complexos cálculos estruturais, retas, texturas e uma curiosidade infinita sobre o próximo passo, o próximo projeto, a próxima inspiração. Palavras que resumem a perspicácia dos projetos e o talento da arquiteta iraquiana Zaha Hadid.

1)Heydar Aliyev Center, em Baku, no Azerbaijão

Heydar Aliyev Center, em Baku, no Azerbaijão

Consagrada por sua estética orgânica e desconstrutivista, e por ser a primeira mulher a ganhar, em 2004, o Pritzker, o “Prêmio Nobel” da área, além de ser considerada “Artista pela paz” da Unesco, a iraquiana residente em Londres tem projetos nos quatro cantos do mundo.  E, em meio à série de compromissos entre China e Coreia, Zaha concedeu entrevista à revista Jorge Bischoff.

Nascida em Bagdá, Iraque, em 1950, estudou Matemática em Beirute e, dali, partiu para a Architectural Association, em Londres, em 1972. Lá, tornou-se sócia de Rem Koolhaas, arquiteto holandês do jet set internacional, e Elia Zenghelis e, mais tarde, dirigiu o seu estúdio. Na década de 80, lecionou em universidades de prestígio, incluindo a Harvard Graduate School of Design e, em reconhecimento ao seu trabalho em arquitetura, em 2010, a revista Time a incluiu na lista das 100 pessoas mais influentes no mundo na categoria “Pensadores”.

Zaha, de fato, é um ser de pensamentos e linguagem pulsantes como mostram suas magníficas obras no MAXXI – Museu Nacional das Artes do Século XXI, em Roma; no Centro de Arte Contemporânea Rosenthal, em Cincinnati; na Torre CMA CGM, em Marselha e na sede BMW em Leipzig. “Seu estilo é marcado por fatores como fluidez, não linearidade e a fantasia ou o fantástico”, detalha o professor de arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Celso Lomonte Minozzi. “A fluidez permite que suas obras tenham passagens de ambientes sem que sejam percebidas, os espaços continuam… Como se fossem infinitos, não determinados”.

2)Guangzhou Opera House, em Guangzhou, na China

Guangzhou Opera House, em Guangzhou, na China

O docente ressalta que, quando se anda por dentro de suas obras, de repente, percebe-se que o lugar onde estávamos há pouco se encontra ao nosso lado, ou sobre nós. “A sensação espacial acaba sendo múltipla e variável, dando sinal da não linearidade dos espaços provocados pelo projeto. Conceitos desenvolvidos com uma plástica intensa”, diz ele, “permitindo a poética de uma irrealidade histórica, presente e não eterna, mas que pertence aos sonhos e aos dramas da contemporaneidade”.

OUSADIA

Mesmo depois de mais de 40 projetos inovadores em todo o mundo, as pessoas ainda perguntam à Zaha “Você acha que o seu trabalho é edificável?”. Ao que ela responde: “Bem, quantos edifícios a mais eu tenho de construir para provar isso?”.

Estação de Metrô Rei Abdullah Financial District (KAFD), em Riad, na Arábia Saudita

Estação de Metrô Rei Abdullah Financial District (KAFD), em Riad, na Arábia Saudita

Na visão do professor Minozzi, tanto Zaha Hadid quanto suas obras devem ser vistas dentro de seus contextos históricos e geográficos. “Seu trabalho é bastante experimental e segue as formas de sua educação. Mais que nos preocuparmos com suas fantasias, devemos nos preocupar se as nossas fantasias estão abrindo caminhos para as poéticas de nossas arquiteturas e de nós mesmos”. Ele acrescenta que as obras dela são factíveis ao contexto latino-americano, desde que se compreenda a realidade cultural e econômica particular desta parte do planeta. Sobre isso, a própria arquiteta acrescenta: “Eu acho que, em décadas passadas, a América do Sul experimentou um grau de isolamento e de imprevisibilidade. Claro que isso permite algumas liberdades criativas inimagináveis, mas também traz restrições para arquitetos como nós que trabalhamos em projetos de longo prazo”.

Ela reconhece a maravilhosa arquitetura de 50 anos atrás, quando havia uma crença inquebrantável no progresso e um grande senso de otimismo. “Esta ideologia se reflete na arquitetura fantástica e modernista do Brasil desse período, que é absolutamente única. A casa de Oscar Niemeyer no Rio é uma obra-prima! O Ministério da Educação e Saúde, e a Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, também são maravilhosos. Muitos arquitetos desse período experimentaram, mas Niemeyer elevou seu trabalho a um nível superior usando todas as vantagens de concreto em formas fluidas sem as tecnologias avançadas de agora”.

Estádio Nacional Kasumigaoka, em Tóquio, no Japão

Estádio Nacional Kasumigaoka, em Tóquio, no Japão

.

IMPRESSÕES

O Brasil e a moda também tocam o coração da arquiteta. Ela já trabalhou para a Swarovsky, Lacoste, Louis Vuitton e Chanel. Recentemente, confirmou sua primeira obra no Brasil. Ela vai projetar um hotel na Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro. “Os ritmos espetaculares e a energia de Copacabana serão um recurso maravilhoso”. Especialmente este ano, aponta ela. “Os cariocas estão determinados pelo legado da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos na regeneração da cidade. É interessante aprender como projetos dessa natureza servem ao povo no futuro”, comenta Zaha. E que, inspirada nessa energia, ela possa dar asas à sua incrível imaginação no Rio. Imaginação fértil, diz o professor Minozzi, que gera um grande espanto diante de sua arquitetura fantástica. “Ao mesmo tempo em que seus trabalhos possuem uma “sinceridade de realização” arquitetônica, trazem grande dose de expressividade”.

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03/06/2014

Da série Revista JB: a poética das curvas

Um olhar atento aos detalhes, uma versatilidade incomum no traço e o desejo de continuar experimentando e comunicando-se por meio de seus projetos mundiais. Assim é o trabalho da aclamada arquiteta iraquiana Zaha Hadid.

Edifícios que se integram e se adaptam às necessidades de seus habitantes. Curvas em desatino a perder de vista, femininas, holísticas. Complexos cálculos estruturais, retas, texturas e uma curiosidade infinita sobre o próximo passo, o próximo projeto, a próxima inspiração. Palavras que resumem a perspicácia dos projetos e o talento da arquiteta iraquiana Zaha Hadid.

1)Heydar Aliyev Center, em Baku, no Azerbaijão

Heydar Aliyev Center, em Baku, no Azerbaijão

Consagrada por sua estética orgânica e desconstrutivista, e por ser a primeira mulher a ganhar, em 2004, o Pritzker, o “Prêmio Nobel” da área, além de ser considerada “Artista pela paz” da Unesco, a iraquiana residente em Londres tem projetos nos quatro cantos do mundo.  E, em meio à série de compromissos entre China e Coreia, Zaha concedeu entrevista à revista Jorge Bischoff.

Nascida em Bagdá, Iraque, em 1950, estudou Matemática em Beirute e, dali, partiu para a Architectural Association, em Londres, em 1972. Lá, tornou-se sócia de Rem Koolhaas, arquiteto holandês do jet set internacional, e Elia Zenghelis e, mais tarde, dirigiu o seu estúdio. Na década de 80, lecionou em universidades de prestígio, incluindo a Harvard Graduate School of Design e, em reconhecimento ao seu trabalho em arquitetura, em 2010, a revista Time a incluiu na lista das 100 pessoas mais influentes no mundo na categoria “Pensadores”.

Zaha, de fato, é um ser de pensamentos e linguagem pulsantes como mostram suas magníficas obras no MAXXI – Museu Nacional das Artes do Século XXI, em Roma; no Centro de Arte Contemporânea Rosenthal, em Cincinnati; na Torre CMA CGM, em Marselha e na sede BMW em Leipzig. “Seu estilo é marcado por fatores como fluidez, não linearidade e a fantasia ou o fantástico”, detalha o professor de arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Celso Lomonte Minozzi. “A fluidez permite que suas obras tenham passagens de ambientes sem que sejam percebidas, os espaços continuam… Como se fossem infinitos, não determinados”.

2)Guangzhou Opera House, em Guangzhou, na China

Guangzhou Opera House, em Guangzhou, na China

O docente ressalta que, quando se anda por dentro de suas obras, de repente, percebe-se que o lugar onde estávamos há pouco se encontra ao nosso lado, ou sobre nós. “A sensação espacial acaba sendo múltipla e variável, dando sinal da não linearidade dos espaços provocados pelo projeto. Conceitos desenvolvidos com uma plástica intensa”, diz ele, “permitindo a poética de uma irrealidade histórica, presente e não eterna, mas que pertence aos sonhos e aos dramas da contemporaneidade”.

OUSADIA

Mesmo depois de mais de 40 projetos inovadores em todo o mundo, as pessoas ainda perguntam à Zaha “Você acha que o seu trabalho é edificável?”. Ao que ela responde: “Bem, quantos edifícios a mais eu tenho de construir para provar isso?”.

Estação de Metrô Rei Abdullah Financial District (KAFD), em Riad, na Arábia Saudita

Estação de Metrô Rei Abdullah Financial District (KAFD), em Riad, na Arábia Saudita

Na visão do professor Minozzi, tanto Zaha Hadid quanto suas obras devem ser vistas dentro de seus contextos históricos e geográficos. “Seu trabalho é bastante experimental e segue as formas de sua educação. Mais que nos preocuparmos com suas fantasias, devemos nos preocupar se as nossas fantasias estão abrindo caminhos para as poéticas de nossas arquiteturas e de nós mesmos”. Ele acrescenta que as obras dela são factíveis ao contexto latino-americano, desde que se compreenda a realidade cultural e econômica particular desta parte do planeta. Sobre isso, a própria arquiteta acrescenta: “Eu acho que, em décadas passadas, a América do Sul experimentou um grau de isolamento e de imprevisibilidade. Claro que isso permite algumas liberdades criativas inimagináveis, mas também traz restrições para arquitetos como nós que trabalhamos em projetos de longo prazo”.

Ela reconhece a maravilhosa arquitetura de 50 anos atrás, quando havia uma crença inquebrantável no progresso e um grande senso de otimismo. “Esta ideologia se reflete na arquitetura fantástica e modernista do Brasil desse período, que é absolutamente única. A casa de Oscar Niemeyer no Rio é uma obra-prima! O Ministério da Educação e Saúde, e a Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, também são maravilhosos. Muitos arquitetos desse período experimentaram, mas Niemeyer elevou seu trabalho a um nível superior usando todas as vantagens de concreto em formas fluidas sem as tecnologias avançadas de agora”.

Estádio Nacional Kasumigaoka, em Tóquio, no Japão

Estádio Nacional Kasumigaoka, em Tóquio, no Japão

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IMPRESSÕES

O Brasil e a moda também tocam o coração da arquiteta. Ela já trabalhou para a Swarovsky, Lacoste, Louis Vuitton e Chanel. Recentemente, confirmou sua primeira obra no Brasil. Ela vai projetar um hotel na Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro. “Os ritmos espetaculares e a energia de Copacabana serão um recurso maravilhoso”. Especialmente este ano, aponta ela. “Os cariocas estão determinados pelo legado da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos na regeneração da cidade. É interessante aprender como projetos dessa natureza servem ao povo no futuro”, comenta Zaha. E que, inspirada nessa energia, ela possa dar asas à sua incrível imaginação no Rio. Imaginação fértil, diz o professor Minozzi, que gera um grande espanto diante de sua arquitetura fantástica. “Ao mesmo tempo em que seus trabalhos possuem uma “sinceridade de realização” arquitetônica, trazem grande dose de expressividade”.

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